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2011-06-25

Soneto - Rodolfo Alves de Faria


A sombra geme aqui. Ruínas este soneto.
A arcaria da frase é um esgarado momo
e, sobre este papel, erguem-se os versos como
velhos muros de pedra ou restos de esqueleto.

A imagem lembra um curvo e triste cinamomo,
onde a hera da dor se enrosca ao tronco preto
e passeia, através da quadra e do terceto,
a saudade que reza, em religioso assomo.

Senta-se a mágoa sobre os escombros dispersos
do hemistíquio onde bate o coração dos versos
e em derredor rasteja o verme dos gemidos;

e como um braço, amor, que no outro braço arrima,
cai, em música estranha, a rima sobre a rima,
num sonoro rumor de mármores partidos.

Rodolfo Alves de Faria (Maceió, AL 23/3/1871 - Maceió AL 25/6/1899)

Poema extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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