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2010-08-24

Incitamento - Oliveira Guerra

Eu sei, poeta, que não lograrás
matar a fome negra com o talento
e que, por certo, um dia morrerás
imerso num profundo esquecimento.

Mas também sei que, se o Destino faz
mercê a alguém dum bem de que é avarento,
dessa mercê mal digno tu serás
se lhe não deres emprego e valimento.

Trabalha a tua língua com fervor
que, embora tarde, um dia o teu valor
há-de ser tido como maravilha.

...Se um diamante se perder na estrada,
há-de encontrá-lo mão aventurada,
porque entre as pedras negras ele brilha.


Manuel de Oliveira Guerra nasceu a 24 de Agosto de 1905 em Oliveira de Azeméis e morreu subitamente no Porto a 5 de Julho de 1964. Autodidacta, estreou-se nas letrasem 1932 com a edição do livro de poemas "Padre Nosso", a que se seguiria a escrita de "Ave Maria", só publicado em 1960. Não se trata, porém, de poesia religiosa, conforme se poderia deduzir dos títulos, mas antes de obras anticlericais, de sátira à Igreja, na senda do autor de "A Velhice do Padre Eterno". Publicou mais um livro de contos, "Caminho Longo" (1960) e novos volumes de poesia: "Algemas" (1962) e "Coisas desta Negra Vida" (1963). No ano de 1960 fundara, no Porto, o Círculo de Estudos Galaico-Portugueses, que viria a editar a revista "Céltica", dedicada à cultura luso-galaica-brasileira.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


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